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Vivian Maier

 

A obra da fotógrafa americana Vivian Maier só foi descoberta após sua morte, há poucos anos. Ela era uma pacata babá que ao longo de décadas, preferiu não revelar ao público seu impressionante trabalho artístico. Literalmente. Vivian nem sequer imprimia suas fotos. Os milhares de negativos, guardados ao longo de décadas, estavam num depósito em Chicago e só viram a luz do dia após um leilão. Agora o público está tendo a oportunidade de conhecer de perto sua obra, seja em publicações, seja em exposições que serão realizadas em Los Angeles (Stephen Cohen Gallery) e Nova York (Steven Kasher Gallery). O texto abaixo foi enviado para a NOO por Richard Gordon, fotógrafo, ensaísta americano e grande admirador da obra de Vivian Maier.

Vivian Maier é única na história da fotografia. Durante pelo menos cerca de 40 anos, ela foi uma dedicada e séria documentarista, trabalhando em um isolamento auto-imposto, à parte de todas as redes sociais e profissionais de sua época.

Ela nasceu em Nova York em 1926 e morreu em Chicago em 2009. Era alta, tinha 1,76 m de altura e como sugerem seus auto-retratos, não era nem gorda nem magra. Sua mãe fora abandonada pelo seu pai quando ela tinha apenas quatro anos, e ela passou a maior parte da sua infância na França. Durante toda a sua vida, falou inglês com sotaque francês. Em 1951, se mudou para Nova York, onde ganhava a vida fazendo bicos. Em 1956, ela se mudou para Chicago onde passou a trabalhar como babá.

Vivian Maier chamou a minha atenção não somente pela qualidade, pela graça bruta de suas melhores fotografias, mas também pelo fato de que sentia por ela uma grande afinidade. Algumas de suas fotografias publicadas em 2009 me pareceram de primeira ordem, combinando uma sofisticação visual, um olho fotográfico, e uma visão pessoal do cotidiano do mundo e sociedade em que ela vivia. Outras, no primeiro e último olhar, pareciam apenas o tipo de boa foto que bons fotógrafos rotineiramente descartam ou não se dão o trabalho de imprimir.

Um aspecto essencial de um bom fotógrafo é editar o seu próprio trabalho. No caso especial de Maier, já morta então, outros fizeram isso por ela. E para ser franco, a edição foi feita sem consciência do escopo inteiro da obra dela, no impulso, tateando no escuro. A extensão completa de suas conquistas e de seus fracassos ainda está para ser descoberta.

Em seu trabalho em P&B, ela usava uma câmera Rolleiflex Twin Len, a mesma que outro expatriado europeu, Robert Frank, utilizou na Suíça e no navio que o trouxe para a América. Pela evidência percebida em seus auto-retratos, Vivian fotografava olhando para baixo para o visor de vidro fosco da câmera. No entanto, é possível que algumas de suas fotografias de gênero social, e mais possível ainda, que as mais formais tenham sido feitas na altura dos olhos usando a lente de aumento do visor, com foco mais preciso.

Claro que, quando Vivian disparava o obturador em seus auto-retratos, geralmente estava olhando para longe, desviando da cena à sua frente. Curiosamente, muitos de seus auto-retratos foram feitos a uma distância maior do que aquela em espaços mais íntimos, que ela empregava nas ruas. Seus retratos de rua, feitos com a permissão do fotografado, eram feitos muitas vezes numa distância menor do que 1,5 metro.

Quando a descoberta póstuma do seu trabalho veio à tona em 2007, alguns a aclamaram como uma grande ingênua, ou artista marginal. Ela não era nem um, nem outro. Posso afirmar isso com base em evidências indicadas em sua biblioteca, que em parte foi encontrada junto com seu arquivo, suas câmeras e outras memorabilias pessoais, todas adquiridas em leilões. Nós também podemos chegar a essa conclusão quase precisamente a partir de suas fotografias, dentro do contexto da época na qual ela trabalhou. Isso é, contudo, uma asserção baseada em conhecimento de causa.

Maier continuou seu trabalho através de décadas, e nesse espaço de tempo nos anos 50 e 60, ela, acredito eu, trabalhava apenas por trabalhar. Mais do que a fotografia em si, era o ato de fazer fotografias que lhe dava motivação e um prazer imenso. Parece ser prematuro chegar a uma conclusão sobre o seu trabalho, já que ainda temos que apreciá-lo em sua totalidade. Esse trabalho ainda tem que encontrar um editor sútil e inteligente.

Os auto-retratos que incorporam sua sombra são uma combinação de exercício de composição quase clássica que lembra Bauhaus com uma fascinação pela tensão criada entre o fotógrafo como observador, e a presença do fotógrafo modificando o que ele está fotografando. Chame isso de efeito do observador, bem conhecido. Se isso influenciava sua fotografia social, é mais um fato que nunca saberemos. O que sabemos de fato é que Vivian Maier era uma artista, se como artista entendemos alguém que cria coisas – música, dança, palavras, imagens que enriquecem e aprofundam a nossa percepção do que é humano.

Vamos celebrar sua vida e o seu trabalho.

Esse ensaio é baseado no estudo do catálogo da obra de Maier pela Russel Bowman Art Advisory, na Jeffrey Goldstein Collection e na exposição de alguns de seus trabalhos na Steve Cohen Photographs e na Steven Kasher Gallery. Richard Gordon Ã© fotógrafo e autor de Meta Photographs e de American Surveillance: Someone to Watch Over Me. Ele mora em São Francisco, mas cresceu na Chicago da época em que Vivian Maier fotografava e trabalhava como babá. Seu trabalho atual poderá ser visto no Art Photographer Index(API) da Editora Photo-Eye, que será lançado em breve.

 

O curta abaixo é dedicado à vida, ao trabalho e ao belo mistério de Vivian Maier. Todas as imagens e filme 8mm são da artista.

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